sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Integração Sensorial: uma vertente da Terapia Ocupacional

O nosso cérebro recebe a todo o momento incontáveis bits de informação sensorial, que rapidamente localiza, processa e responde de acordo com o tipo e ordem de sensação, algo parecido a um polícia a dirigir o tráfico. Quando as sensações fluem de forma organizada e integrada, o cérebro pode usar essas sensações para formar percepções, comportamentos e aprender. Quando esta fluência é desorganizada, a vida pode ser como o tráfico em hora de ponta (J.Ayres) A integração sensorial é a organização do uso dessas sensações, ou seja, é a capacidade de sentir, compreender e organizar a informação sensorial a partir de um corpo e no seu ambiente. Algumas crianças apresentam dificuldades na identificação, no processamento e na resposta de todas estas sensações que os nossos sentidos enviam para o nosso corpo a partir do ambiente onde estamos inseridos. Nem sempre estes défices são identificados, contudo reflectem-se no desenvolvimento da criança, na sua aprendizagem e sentimentos que tem sobre si próprio afectando o desempenho nas diversas áreas podendo ocasionar atraso escolar, dificuldade na relação com os outros, dificuldade de atenção e concentração, auto-estima prejudicada, alteração no tónus muscular, dificuldade de equilíbrio e na coordenação motora global e fina. Os componentes do processamento sensorial são: - Registo dos inputs sensoriais - Orientação dos inputs sensoriais - Interpretação dos inputs sensoriais - Organização da resposta aos inputs sensoriais - Execução das respostas Estes são alguns dos comportamentos que podemos observar em crianças que experienciam dificuldades de processamento sensorial:  Dificuldades no registo sensorial: pode aparecer que não têm reacção ao movimento ao toque; podem parecer letárgicos; podem exibir uma resposta retardada ao estímulo sensorial. Ou podem parecer demasiado reactivos ao movimento e ao toque, podendo exibir uma resposta elevada ao estímulo sensorial.  Dificuldades na modulação sensorial: têm dificuldade em se adaptar a mudanças de rotinas; têm um nível alto de distracção; têm um nível de actividade elevado; experienciam dificuldades nas transições ou podem parecer “desligados” e “isolados”.  Dificuldades na resposta sensorial ou na integração: podem ter problemas com o planeamento motor; podem ter uma qualidade pobre de respostas motoras (especialmente respostas de controlo motor e/ou de respostas protectivas); podem ter um pobre conhecimento corporal e problemas de coordenar os dois lados do corpo. Sinais e sintomas de uma disfunção sensorial: Alguns dos sintomas da disfunção da Integração Sensorial são interpretados e tratados erroneamente, e muitas vezes são confundidos com problemas emocionais. Em seguida apresentamos alguns sinais e sintomas perante os quais pode estar mais atento:  Hipersensível ao toque, movimento, ambiente circundante e sons;  Hiposensível ao toque, ambiente circundante e sons;  Nível de atividade bastante alto ou bastante baixo;  Dificuldades de coordenação motora;  Atrasos na fala ou nas competências linguísticas;  Dificuldades nas competências motoras (global e/ou fina);  Dificuldades de aprendizagem (leitura e escrita);  Pobre auto-conceito e auto-estima;  Dificuldades de funcionamento executivo;  Comportamento de desafio e oscilações de humor de forma a chamar a atenção;  Dificuldade em manter a atenção em sala de aula ou brincadeiras mais complexas;  Dificuldade em graduar a força;  Evita ambiente com muitas pessoas e ambientes barulhentos;  Esbarra constantemente nos objetos ao redor, derruba coisas sem querer. A intervenção em integração sensorial pretende facilitar o desenvolvimento das capacidades do sistema nervoso para que ele consiga processar os estímulos sensoriais de forma normal. Através da terapia o cérebro coloca as mensagens sensoriais juntas e devolve a informação correcta em resposta ao estímulo que foi dado. A terapia de integração sensorial usa exercícios neurosensorias e neuromotores para estimular a própria capacidade do cérebro em se reparar e pretende desenvolver, entre outras, a atenção, concentração, audição, compreensão, equilíbrio, coordenação e o controle da impulsividade nas crianças Neste sentido faz uso dos cinco sentidos inerentes ao ser humano (audição, olfacto, tacto, visão e gosto) e junta mais dois o proprioceptivo e o vestibular. O primeiro agrega a nossa capacidade de reconhecer a localização espacial do próprio corpo, a sua posição, a força exercida pelos músculos, e a posição em relação às outras partes sem precisar utilizar a visão. Essa percepção permite-nos, por exemplo, desviar de um objecto mesmo sem saber a que distância precisa ele se encontra, ou mesmo tocar uma parte do corpo com os olhos fechados. Os seus receptores encontram-se, em maioria, nas articulações. Graças à propriocepção podemos andar, segurar, manipular e coordenar objectos. O segundo sentido – vestibular- tem os seus receptores localizados no ouvido e são sensíveis às alterações angulares da cabeça. É responsável pelo equilíbrio do corpo, além de actuar na identificação da posição do corpo, permitindo que se saiba quando está deitado, sentado, em pé ou em qualquer outra posição. Também é graças ao sistema vestibular que conseguimos coordenar movimentos dos dois lados do corpo em conjunto, como andar de bicicleta e cortar com uma tesoura. O brincar é a melhor forma de desenvolver a integração sensorial. Desde pequena a criança naturalmente procura as atividades que promovem uma boa integração da informação recebida através dos sentidos. Ao se movimentar, aprende sobre os limites do seu corpo dentro do espaço que a rodeia. Ao manipular objetos, aprende sobre seu peso, textura, força que precisa para segurá-los. Toda essa informação é recebida para o cérebro, organizada e armazenada, possibilitando que a criança aprenda cada vez mais sobre o mundo em que vive.

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